“Senhor, se não fosse para satisfazer meu reino e a todos,
eu não faria o que tenho de fazer, hoje por nada no mundo.”
*Henrique VIII a Cromwell no dia de seu casamento com Ana de Cleves
Nome: Ana de Cleves (Alemão: Anna von Jülich-Kleve-Berg, Holandês: Anna van Kleef, Inglês: Anne of Cleves);
Casa Real: La Marck (nascimento) e Tudor (casamento);
Nascimento: 22 de Setembro de 1515;
Casamento com Henrique VIII: 6 de Janeiro de 1540 no Palácio de Greenwich;
Anulação do casamento com Henrique VIII: Julho de 1540;
Morte: 16 de Julho de 1557 em Chelsea Manor, Londres;
Funeral: 03 de Agosto de 1557 em Westminster Abbey.
Início da vida:
Ana nasceu em 1515, em Düsseldorf Alemanha. Ela foi a segunda filha de John III, da Casa de La Marck – Duque de Jülich Cleves e Berg, Conde de Mark e Ravensberg, e sua esposa, Maria, Duquesa de Julich Berg. Ela cresceu no pacato Schloss Burg, à margem de Solingen.
O pai de Ana, foi influenciado por Erasmo de Rotterdam, seguindo um moderado caminho dentro da Reforma protestante que ocorria na Europa – atualmente, historiadores especulam se ele, era um reformador de cunho religioso ou político. John ficou ao lado da Liga de Schmalkaldic, em oposição ao Imperador Carlos V. Após sua morte, seu filho, William, tornou-se Duque de Jülich-Cleves-Berg, levando o epíteto de “O Rico”.
Em 1526, sua irmã mais velha, Sybilla casou-se com John Frederick, príncipe eleitor da Saxônia, cabeça da confederação protestante da Alemanha, considerado o “Campeão da Reforma”. Frederick nutria ódio pelo Imperador, por sua aceitação do Ducado de Guelders.
Ana foi criada junto de sua mãe, Maria, que era católica devota. Ela foi considerada uma criança de temperamento tranquilo. Embora tenha sido bem acolhida por seus pais, era natural, conforme o costume da época, que estes almejassem um herdeiro varão.
Em 1527, aos 12 anos de idade, a jovem Ana foi prometida a Francis, o jovem de 10 anos de idade, filho de herdeiro do Duque de Lorraine. Deste modo, o noivado foi considerado como sendo ‘não oficial’ e acabou por ser cancelado em 1535. Seu irmão mais novo, William, era protestante (provavelmente luterano, embora isso venha sendo questionado), embora sua família estivesse desalinhada religiosamente, devido ao credo de sua mãe.
Aliança Tudor:
Henrique VIII permaneceu solteiro por mais de dois anos após o falecimento de sua terceira consorte, Jane Seymour. Isto ocorreu tanto por seu luto, quanto pelas tentativas de Cromwell em conseguir uma boa pretendente no continente, logo após a morte de Jane.
O Primeiro casamento de Henrique, foi uma aliança política entre reinos. Em realidade, tal aliança estava destinada ao seu irmão, Arthur; porém, após o falecimento deste, o trono e sua consorte, passaram para o jovem Henrique, que era o irmão mais novo. Em todo modo, não é equivocada a ideia de que Henrique esteve apaixonado por Catarina, assim como ela por ele, no início de seu matrimônio. Suas duas próximas alianças, foram
realizadas por motivos amorosos, e o monarca poderia ter obtido pouco ou nenhum ganho monetário ou político a partir delas.
Após o cisma com Roma, a Inglaterra ficou isolada politicamente, e provavelmente vulnerável. Foi esta circunstância, que levou Henrique e seus ministros a examinarem a possibilidade de uma nova aliança no continente. A fim de averiguar se sua nova consorte era atraente, o monarca enviou vários agentes e pintores para cortes estrangeiras, para que lhe relatassem sobre a aparência e outros dotes das candidatas.
Em 1539, o mais famoso pintor da corte Tudor, Hans Holbein (o jovem), foi enviado pelo monarca para a corte do Duque de Cleves. Ele tinha três irmãs: Sybilla (já casada), Amélia e Ana. Holbein pintou as irmãs do Duque de Cleves e Henrique decidiu ter um contrato elaborado para seu casamento com Ana, a mais velha das duas. Naquela época, a Inglaterra era vista como um importante aliado em potencial contra a França e o Sacro Império Romano, que após uma trégua, decidiram colocar-se contra os países que haviam abdicado da autoridade papal. Além disso, a Inglaterra também estava interessada em buscar alianças com reinos que pudessem apoiar a reforma de sua igreja. A disputa do Duque de Cleves com o imperador pelo território de Gelderland, trouxe então aliados adequados para o rei da Inglaterra na Trégua de Nice (Truce of Nice). A aliança com Ana, foi então solicitada ao Rei por seu chanceler, Thomas Cromwell.
Finalmente, em 06 de outubro de 1539, o tratado de casamento com Cleves foi finalizado, apenas 2 meses após Holbein ter feito seu retrato. A princesa Ana estava agora destinada a ser rainha da Inglaterra. No dia 11 de dezembro, ela estava em Calais à espera de um vento favorável para levá-la a Dover. Ela esteve lá por quase duas semanas, enquanto Henrique a esperava em Greenwich. Finalmente, em 27 de dezembro, ela desembarcou em Deal – em seguida, viajou para Dover e Canterbury, antes de chegar em Rochester, em 1 de janeiro de 1540. Henrique, ansioso para ver sua noiva em pessoa, correu disfarçado com um manto para encontrá-la, para “assim, nutrir o amor” (Thus nourish love), disse Cromwell.

Ana chega à Inglaterra:
Ano de 1539:
Este ano, no dia 27 de Dezembro (dia de São João), Lady Ana, irmã do Duque de Cleves, desembarcou em Dover às 5 horas da manhã. No local, ela foi honrosamente recebida por Charles Brandon, Duque de Suffolk, e outros grandes senhores, sendo assim, apresentada ao castelo. Na segunda-feira seguinte, ela partiu rumo a Canterbury, onde foi honrosamente recebida pelo arcebispo de Canterbury e outros grandes homens. Depois, ela foi apresentada ao palácio do Rei em St. Austin, onde fizeram uma grande festa. Na terça-feira, Ana seguiu rumo a Sittingbourne.
Ano de 1540:
Na véspera de Ano Novo, o Duque de Norfolk, seguido de cavaleiros e barões do Tesouro, receberam sua graça, à 2 milhas além de Rochester e então, seguiram rumo à abadia de Rochester, onde permaneceram naquela noite e por todo o dia de Ano Novo. Na tarde do dia de Ano Novo, vossa graça o rei, junto com cinco membros de sua câmara privada, seguiram disfarçados com capas e capuzes para não serem reconhecidos. Eles foram secretamente a Rochester, onde o monarca subiu para a sala onde Lady Ana se encontrava. Ao adentrar o local, Henrique encontrou-a admirando para fora de uma janela, uma tourada que estava ocorrendo no pátio. Ele então, abraçou-a de repente e roubou-lhe um beijo, mostrando um presente que havia lhe enviado de ano novo. Envergonhada e sem saber quem era tal pessoa (afinal ele estava disfarçado), Ana agradeceu timidamente. Este foi o primeiro contato que tiveram. Ana mal falou com o desconhecido, mostrando mais interesse para o evento que ocorria fora da janela. Ao ver que a mulher mal prestava-lhe atenção, Henrique então entrou em outra sala, tirou o manto e retornou aos aposentos com um casaco de veludo roxo. Quando os senhores e cavaleiros presentes viram sua graça, prestaram-lhe reverência. Foi então que Lady Ana, conforme descrito, saudou vossa majestade, e sua graça saudou-a novamente. Com o orgulho ferido, o rei então bradou a todos: “Eu não gosto dela!” (I like her not!).
Mesmo não gostando de Ana, Henrique não poderia esquivar-se de sua aliança com Cleves.
O casamento ocorreu em 6 de janeiro de 1540, com o noivo protestando por cada passo rumo ao altar. Ana de Cleves, que mal conseguia falar Inglês, estava em uma terra estrangeira, sendo desprezada por seu pretendente a marido. A confusa jovem, foi levada a uma cerimônia de casamento privada em Greenwich, trajando um belo vestido de tecido prateado, adornado com pérolas e pedras, junto com uma coroa cheia de pedras preciosas e ramos de alecrim presos em seus cabelos louros. Ela foi seguida por suas damas de companhia. Ao final das festividades, o casal seguiu ao leito matrimonial. A união não foi consumada, um assunto no qual Henrique, fazia questão de falar abertamente, mostrando sua revolta. Por boa parte do casamento, quando Henrique VIII e Ana de Cleves dividiam o mesmo leito, o faziam apenas para dormir.
Primeiramente, Ana não fazia ideia de que seu marido estava descontente com ela, e até chegou a comentar com suas damas: “Quando ele vem para a cama, beija-me, toma-me pela mão e diz: Boa noite.” Uma de suas damas, Eleanor Paston, Condessa de Rutland, teve que alertá-la que tal ato não era o suficiente para ocasionar uma gravidez.
Divórcio e fim da vida:
Após alguns meses de matrimônio, a aliança Franco-Imperial, mostrou sinais de um natural enfraquecimento. Ao saber de tal notícia, Henrique prontamente quis terminar seu quarto casamento, e disse a Cromwell para tratar de organizá-lo.
Eventualmente, Ana soube que seu marido queria livrar-se dela. Durante sua vida, ela nunca foi chamada de ‘Égua de Flanders’, alcunha apócrifa conferida a ela pelo Bispo Gilbert Burnet, que nunca a conheceu em vida, tampouco a Henrique VIII.
Ana era uma mulher astuta o suficiente, para compreender a delicada situação em que se encontrava. Para talvez, surpresa do monarca, ela cooperou com seu desejo de obter a anulação. Quatro meses após seu enlace com Ana, Henrique conseguiu uma nova amante, a jovem Catarina Howard, que, igualmente a muitas de suas consortes anteriores, era dama de companhia de sua rainha.
Em julho do mesmo ano, Henrique teve seu casamento anulado por motivos da não-consumação do mesmo, e por Ana ter sido prometida ao filho do duque de Lorraine. Em 09 de julho, o Parlamento declarou o casamento nulo e sem efeito. Ana passou a ser chamada de a “querida irmã do rei”, recebendo uma considerável renda e imóveis por toda a Inglaterra. Henrique ficou tão satisfeito com essa inesperada docilidade, que lhe deu o status de segunda mulher aos olhos do rei (algo como favorita, pessoa na qual ele nutria carinho e atenção), abaixo apenas de suas filhas, as ladies Maria e Elizabeth, ambas as quais vieram a fazer amizade com Ana.
A ex-rainha recebeu uma generosa pensão, incluindo o Palácio de Richmond e o Castelo de Hever (ver artigo Hever Castle: O lar de Ana Bolena), casa dos ex-sogros de Henrique, os Bolena. Ana permaneceu na Inglaterra e nunca mais se casou. Henrique muitas vezes, chamou-a de sua irmã e a convidou para a corte. Foi dado a ela, um subsídio de 4.000 libras por ano, que incluía duas casas e serviço doméstico.
Este foi um acordo satisfatório, e ela e o rei permaneceram amigos. Ana continuou a manter contato com suas enteadas, a primogênita Maria e a mais nova Elizabeth. Mesmo após a anulação, Lady Elizabeth iria continuar a visitar sua ex-madrasta em Richmond. Após Catarina Howard ser decapitada, o irmão de Ana – Duque de Cleves, pressionou o rei a desposá-la novamente, algo que Henrique recusou-se a fazer. Ana parece ter gostado de Catarina Parr, porém teria reagido à notícia do sexto casamento de Henrique, como uma brincadeira cruel: “A senhora Parr, está tomando uma grande carga sobre si”. Em março 1547, o conselho privado de Eduardo VI pediu-lhe para sair do Palácio de Bletchingley, sua residência habitual, rumo ao Palácio de Penshurst para dar lugar a Thomas Cawarden – Mestre de cerimônias. Eles viram que Penshurst, era mais próximo que Hever – a mudança havia sido vontade de Henrique VIII. Mais tarde, Ana esteve presente junto com Elizabeth, na coroação de Maria.
Esta foi sua última aparição pública. Como a nova rainha era uma católica devota, Ana então converteu-se novamente – ou deixou a entender isso, uma vez que sua religião sempre foi alvo de debate – tornando-se então, católica romana. Meses mais tarde, Ana escreveu à Maria I, para felicitá-la por seu casamento com Filipe de Espanha. No entanto, Ana raramente visitou a corte durante o reinado de sua enteada, pois gostava de gerir seus próprios bens e permanecer em seu lar.
Desde sua chegada como noiva do rei, Ana nunca deixou a Inglaterra: quando seu casamento foi anulado, ambos seus pais haviam morrido e seu irmão, não aprovou sua adesão ao catolicismo. Como uma mulher de meios, possuía liberdade para fazer o que quisesse e como nunca mais se casou, nunca mais teve um marido a quem obedecer – embora, contra sua vontade, ainda tivesse que ceder à algumas ordens de seu irmão.
Ana tinha mais liberdade na Inglaterra do que em Cleves, e se tivesse voltado para seu país, teria perdido sua parte em seu acordo com o monarca inglês. Três meses após o divórcio, foi relatado pelo embaixador francês que, a “Dama de Cleves’’, possuía um semblante mais alegre do que nunca. Ela usava uma grande variedade de vestidos e passava todo o seu tempo em esportes e recreações.” – e é provável que tenha achado Henrique tão pouco atraente como ele diz tê-la achado.
Quando a saúde de Ana começou a fraquejar, Maria I lhe permitiu viver em Chelsea Old Manor, onde a última esposa de Henrique, Catarina Parr, viveu após seu segundo casamento. No meio de julho de 1557, Ana ditou sua última vontade em seu testamento. Nele mencionou seu irmão, irmã e cunhada, bem como Maria I, Elizabeth, e a Duquesa de Norfolk e Condessa de Arundel. Ela deixou dinheiro para os seus servos, pedindo à Maria e Elizabeth, que os empregassem em seus lares.
Ela morreu em Chelsea Old Manor, em 16 de julho de 1557, oito semanas antes de seu quadragésimo segundo aniversário, 17 anos após divorciar-se de Henrique VIII. A mais provável causa de sua morte, foi câncer. Ela foi enterrada na Abadia de Westminster, em 03 de agosto do mesmo ano. Seu túmulo encontra-se ao lado oposto do santuário de Eduardo o Confessor, um lugar segundo dizem (e eu particularmente discordo, pois já visitei) um pouco difícil de encontrar.
Ela foi a única esposa de Henrique, a ser enterrada na Abadia. Ela também tem a distinção de ser a última das esposas de Henrique VIII a morrer (ela viveu por mais 09 anos após a morte da última esposa de Henrique, Catarina Parr). Ela não foi a mais longeva, uma vez que Catarina de Aragão, morreu com 50 anos, e ela, com 41. Ana foi lembrada por todos que lhe serviram, como uma mulher amável, generosa e tranquila.

Acredita-se que Henrique VIII muitas vezes referiu-se à Ana como uma amiga e que ela chegou a aconselhá-lo em muitas questões durante seu reinado. Ana, foi a amada irmã do rei, uma pessoa que Henrique amou, mas não como esposa.
Bibliografia:
NORTON, Elizabeth; Anne of Cleves – Henry VIII’s Discarded Bride; England, 2010.
FRASER, Antonia. As Seis Mulheres de Henrique VIII; Best Seller, 27 de fevereiro de 2009.
WARNICKE, Retha M; The Marrying of Anne of Cleves: Royal Protocol in Early Modern England; England, 2000.
Definitivamente gosto muito de Ana de Cleves, ela soube como dar a volta por sua cima e mudar seu destino.
Ana soube aproveitar sua vida e viver intensamente, sem passar por cima de ninguém! Tenho muita admiração por ela!
Gostei bastante do blog, continuem postando
Que bom que gostou Laura, ficamos felizes!
Continuaremos, sem dúvidas.
Obrigada por comentar e seja bem-vinda!:)
e o melhor saio de um casamento com cabeça erguida e o mais importante acima do pescoço
Sem dúvidas Luiz Eduardo!
Seja bem-vindo e obrigada por comentar!:)
amei o blog ❤ estou lendo tudo e acompanhando
Ana de Cleves acho ela bem esperta, se converteu qdo Maria assumiu a coroa rsrsrs n falou nada qdo o rei queria se separar dela com medo de perder a cabeça rsrsrs Enfim… bem esperta e inteligente rsrsrs
E verdadeira a cena que aparece mostrando o rei tendo relacoes com ela depois de separados?
Não é não Teresa. É apenas liberdade poética. 🙂
Eu gosto muuuito das duas Anas (Bolena e Cleves). Elas são maravilhosas!! Admiro muito a Ana de Cleves!!
Existe um relato de que Anna de Cleves foi lésbica. Procede?
É falso. Deriva da licença poética do romance de Brady Purdy, intitulado: The Boleyn Wife. 🙂