Embora não houvesse nenhuma lei concreta na Inglaterra Tudor que impedisse a adesão de uma mulher ao trono (como houve na França), a ideia em si era algo indesejável. Foi considerado por muitos, incluindo Henrique VIII, que uma mulher não conseguiria ser uma boa governante. Como todos sabemos, Henrique VIII com o passar dos anos de seu casamento com a princesa espanhola Catarina de Aragão, começou a desesperar-se com a ideia de talvez nunca ter um herdeiro varão. Ana Bolena (conforme vimos na série de artigos com o mesmo nome) surgiu junto a uma promessa de novos tempos, ela era mais jovem, não menos determinada, e poderia muito bem gerar em seu ventre, o que poderia ser a promessa para a solidificação de uma nova era, um príncipe Tudor.
Henrique já podia sentir o peso de sua idade aproximando-se, e tudo o que possuía em sua longa união com Catarina era uma menina saudável, chamada Maria, e inúmeros fantasmas de natimortos. Ficou claro para Henrique, que sua esposa, que já não mais sangrava, nunca lhe daria o que queria, a jovem Ana Bolena, já não era mais apenas uma opção.
Para casar-se com Ana, Henrique deveria ter seu casamento com Catarina anulado, e isso não seria nada simples. O poder de anular casamentos Reais cabiam à decisão de Roma, e tudo revelaria-se muito mais difícil no momento em que Roma foi tomada por Carlos V, Sacro Imperador Romano e sobrinho de Catarina. O papa não poderia dar-se ao luxo de ofender Carlos concedendo a anulação que Henrique tanto queria, isso poderia custar sua vida, e o mais importante, Roma.
Conforme o tempo avançava, tornou-se claro para Henrique que, se ele quisesse casar-se novamente, teria de encontrar uma outra forma de obter tal anulação. E esta nova fórmula, não poderia ter ajuda do Papa…
A resposta veio em algo no qual a Inglaterra estava despercebidamente rumando há um certo tempo, o rompimento com Roma.
Devido a alta influência do clero em solo inglês, a igreja e alguns de seus representantes, possuíam muito mais riquezas e bens que o próprio rei. Hampton Court, por exemplo, o maior palácio já arguido em solo inglês era de propriedade de um eclesiástico, Cardeal Wolsey, braço direito de Henrique.
Henrique sabia que a igreja a esta altura, representava uma ameaça considerável a seu poder e que com a dissolução dos monastérios e o poder da igreja inglesa voltado para si, ele não mais temeria tal ameaça.
Com o rompimento de Henrique com a igreja Católica, o poder para os assuntos eclesiásticos viriam a ser de propriedade real, ou seja, tanto o divórcio quanto os assuntos financeiros pertinentes aquela instituição, agora poderiam ser resolvidos por ele.
Este passo revolucionário foi viabilizado pelo surgimento naquele momento na Europa de um novo ramo do cristianismo, que rapidamente ganharia o nome de protestantismo.
O protestantismo carregaria importantes divergências doutrinárias ao catolicismo, porém a principal preocupação do Rei no momento, era a derrubada do poder eclesiástico em seu país. Em muitos aspectos, a nova Igreja inglesa permaneceria essencialmente, católica. Mas a mudança oficial da religião (conhecida como a Reforma) teria efeitos de longo alcance a Inglaterra. Durante séculos, monges, freiras e frades tinham sido um aspecto integrante da vida inglesa, porém, com o fim da antiga igreja, esta forma de vida chegaria ao fim. Os mosteiros foram fechados, e os monges, freiras e frades, foram forçados a sair das cidades. Foi-lhes concedido uma pensão vitalícia, para que pudessem cuidar de si mesmos, e muitos encontraram um novo meio de vida, porém muitos caíram na pobreza e tornaram-se mendigos.
Henrique VIII, filho de Henrique VII e Elizabeth de York era agora Chefe Supremo da Igreja na Inglaterra, e poderia obter sua tão desejada anulação. Em janeiro de 1533 casou-se com Ana Bolena, que já estava esperando um filho seu. Em julho daquele mesmo ano, embora grávida, Ana recebeu uma magnífica coroação. Ela e Catarina de Aragão, foram as únicas esposas de Henrique a serem formalmente coroadas Rainha da Inglaterra. Tanto Henrique quanto Ana, acreditavam de todo o coração que o filho que ela esperava era um menino, e tinham todos os motivos para tal, afinal videntes, filósofos e astrônomos asseguraram ao jubiloso rei, que desta vez, ele seria o pai de um varão!
O destino provou ser diferente…
Não seria um varão que viria ao mundo em Greenwich no dia 7 de setembro de 1533, e sim uma menina. Foi um desastre sem escalas, porém, ninguém sentiu mais o peso desta nova Era desmoronando em suas costas que Henrique, que talvez tenha visto que seu sonho a esta altura, fosse como Thomas More diria, utópico…Ele havia movido montanhas para casar-se com Ana, que por mais que não tenha sido o motivo principal, foi o estopim para o rompimento com Roma, a dissolução de monastérios e morte de homens, cujo único crime foi a fé, e tudo o que conseguiu, ironicamente, foi uma filha.
A menina chamaria-se Elizabeth, em homenagem a mãe de Henrique, Elizabeth de York. Em seu nascimento houve uma pequena celebração, ofuscada pela outrora celebração do varão da nova Era. Fogueiras foram acesas em toda a Inglaterra, mas o entusiasmo já não era tanto. Catarina de Aragão foi uma rainha amada, sua queda chocou o povo, e consequentemente tornou Ana Bolena impopular. Muitos a culpavam pelas mudanças religiosas, e pelo repúdio que o Rei nutria por Catarina, deixando-a em condições deploráveis. No entanto, o batizado da pequena princesinha ruiva, foi tido como magnífico. Ele ocorreu em Greenwich aos seus três anos de idade.
Após o nascimento de Elizabeth, a fervorosa paixão do Rei para com a sua ”douce dame jolie” foi aos poucos esfriando, mas enquanto Ana ainda gozava dos favores reais, Elizabeth foi crescendo envolta a criados, palácios e uma vida confortável.
Foi concedido a Elizabeth, sua própria casa, no Palácio Real de Hatfield, e sua própria mãe encarregou-se de selecionar pessoas adequadas para a sua educação e cuidados, recrutando áias de sua confiança. Entre os moradores do Palácio, estava sua meia-irmã, agora Lady Mary devido a anulação do casamento entre seus pais. Somente o herdeiro do trono poderia ser príncipe ou princesa na Inglaterra, e como um filho ilegítimo, Maria não estava mais na linha sucessória do trono. Esta foi uma cruel reviravolta no destino de Maria, que ressentia-se de ter de servir a filha da mulher que havia substituído sua mãe.
Naquele momento, a governanta de Elizabeth era Margaret, Lady Bryan. Ela era a chefe dos aposentos da princesa, e responsável por seu bem-estar. Era costume que as crianças Reais vivessem longe de seus pais, focando em uma educação refinada e direcionada para sua posição, porém registros mostram que Ana via sua filha regularmente.
Sem dúvidas, se Elizabeth fosse um menino ou se Ana tivesse mais tarde tivesse tido um, seu destino teria sido bastante diferente. Mas, como Catarina antes dela, Ana não conseguiu realizar o desejo do rei. Algum tempo após o nascimento de Elizabeth, Ana sofreu um aborto espontâneo, e mais tarde ocorreu o nascimento prematuro de uma criança do sexo masculino, natimorta. As mesmas dúvidas que haviam atormentado Henrique em seu casamento com Catarina de Aragão voltaram a assombrá-lo. Quando Catarina de Aragão morreu, possivelmente de câncer, Henrique ficou livre para desfrutar seu casamento com Ana, sem enfrentar petições para que tomasse Catarina novamente em casamento, porém os dias de Ana estavam contados. Ela foi acusada de adultério e incesto, sendo presa e levada para a Torre de Londres. Ela foi levada a julgamento e considerada culpada em todas as acusações, a sentença foi a morte. Ana foi decapitada na Torre Verde em 19 de maio de 1536. Elizabeth agora órfã, tinha apenas dois anos e meio de idade.
FONTES:
Elizabeth I.org: AQUI.
The life and death of Anne Boleyn – Ives, E.
Trágica história de Ana…Henrique nem ao menos lhe deu tempo para tentar, com certeza ela teria lhe dado um filho homem. 😦
Acredito nisso também Jamile…=/
Obrigada por comentar e seja bem vinda!=)
Já conhecia esta historia. O melhor é que meu neto nasceu na Inglaterra na maternidade de Greenwich.Atrás do palácio de verão de Henrique VIII.Amei!
Que legal Mary, nasceu pertinho de tudo isso, deve ser muito gostoso!=)
Gostei de lêr!
Que bom Mary, seja bem vinda!=)
Conheço a história e revejo filmes e series varias vezes ….acho que no fundo gostaria de ver um final diferente para Ana Bolena, nossa como foi injustiçada….e com certeza acredito também que ela teria dado um “filho” ao Henrique VIII.
E para finalizar, não vejo Jane Seymor como “santa” pois em situação diferente ela também “foi amante, ficou com o rei” enquanto ele ainda estava casado com Ana (que estava grávida) e acho magnífico a filha de ANA BOLENA ter reinado a Inglaterra por 45 anos e muito bem!!!
E como se fosse vinganca do Deus traido, separacao da Igreja, Henry nunca teve um filho homem e acabou reinando uma mulher.
Olá Ana, na realidade, Henrique VIII teve sim um filho homem, e ele ascendeu ao poder antes de Elizabeth. O filho que Henrique VIII teve com Jane Seymour, sua terceira esposa, foi Eduardo VI, e ele foi um bom governante e muito inteligente. Maria e Elizabeth herdaram muito de seu reinado. 🙂