Henrique VIII sem dúvidas foi um dos mais famosos monarcas da Europa; seus inúmeros matrimônios com fins controversos, a reforma da igreja inglesa, o enorme número de vítimas executadas às suas ordens, a maneira como tratava suas filhas e sua ânsia por um herdeiro varão, são apenas alguns fatos que cercam as mentes de estudiosos até hoje.
Psicopata ou não, sua tendência ao histerismo e violência, foi aparecendo com o passar dos anos e ao contrário do que muitos pensam, Henrique não foi sempre o Rei que muitos gostam de classificar como Tirano, Barba Azul e glutão, desesperado por uma esposa jovem que pudesse lhe dar filhos homens.
Criado e educado em seio renascentista, em sua juventude, Henrique VIII mostrou seu lado mais humanista; era um grande poeta, esportista, musicista e dançarino, e como podemos ver em sua música ”Pastime with good company”, apreciava o lado bom da vida, a boa companhia e afugentava o ócio que, segundo ele, era o caminho do desastre.
”Caçar, cantar, e dançar,
O meu coração está pronto!
Todo o bom esporte,
para o meu conforto,
quem me impedirá?”– Henrique VIII/ Pastime with Good Company (início século XVI)
Henrique foi um jovem muito bonito, descrito por embaixadores europeus como o ”príncipe mais belo de toda a Europa”, possuía um físico atlético, cabelos arruivados, era alto, de ombros largos e muito charmoso.
Mas como este jovem homem, veio a tornar-se um dos Reis mais controversos da história inglesa? O que aconteceu para que carregasse sua fama de impiedoso e violento?
As respostas são variadas. No documentário inglês de 2008, de Dunja Noack, ‘‘Inside the Body of Henry VIII”, estudiosos apontam (uma nova e bastante aceita teoria), que o começo do fim dos anos dourados de Henrique VIII, ocorreu com sua quase fatal queda durante um torneio de justa em 1536, e é dentro deste recorte, que construiremos o artigo de hoje.
Segundo registros do período, o soberano ficara desacordado por mais de 40 minutos, tempo suficiente para seus conselheiros passarem a cogitar um sucessor para o trono da Inglaterra. Ficar desacordado durante tanto tempo, segundo estudos médicos, pode significar a implicação de graves e irreversíveis lesões cerebrais, como inchaço intracraniano, hemorragia e etc. É importante frisar que, após este acidente, Henrique carregou sequelas para o resto de sua vida, como uma perna frágil que viria a tornar-se ulcerada (juntamente com o uso excessivo de suas famosas jarreteiras), dores de cabeça incessantes, mudanças bruscas de humor beirando a bipolaridade, entre outros aspectos.
Após seu fatídico acidente, Henrique VIII foi obrigado a abrir mão de uma das maiores paixões de sua vida: o esporte. Seu corpo, não mais tão jovem e forte como de costume, agora cobrava o duro preço dos anos que carregava em suas costas, e o esporte, não mais poderia fazer parte de sua rotina. É bastante provável que, ao ver seu esbelto corpo engordar, suas pernas e cabeça doerem e outros amigos mais jovens praticarem esportes, isto tenha gerado uma profunda instabilidade mental, seguida de um processo depressivo e pós-traumático no monarca; afinal, desde o início de seu reinado, ele esteve acostumado a ser o centro das atenções.
Suas esposas e filhas, foram as que mais sofreram dentro de suas oscilantes alterações de humor, de um alegre homem, para um rei que entraria para a história como um ‘tirano impiedoso’. Antes de seu acidente com a justa (o acidente ocorreu, dia 24 de Janeiro de 1536), devemos lembrar que, Henrique, obcecado com sua busca por um herdeiro varão, seguida de frustradas tentativas (entre outros vários motivos, como o crescente poder do clero na Inglaterra e discordâncias políticas no continente), rompeu com Roma, tornou-se o próprio chefe de sua igreja e anulou seu matrimônio com sua primeira esposa, a espanhola Catarina de Aragão.
Quase três anos após a anulação de seu primeiro casamento – e falhas tentativas de obter um herdeiro varão -, sua segunda esposa Ana Bolena, encontraria seu destino no cadafalso, após enfrentar uma série de intrigas, denúncias e facções na corte. A execução de Ana, ocorreu poucos meses após o acidente de Henrique.
Após a morte de Ana, Henrique finalmente encontrou em sua nova esposa, Jane Seymour, a chave para a realização de seu grande sonho: um herdeiro varão. A jovem e paciente Jane, cujo lema pessoal era “Bound to obey and serve” (obrigada a obedecer e servir), deu à luz um saudável menino, que foi chamado de Eduardo. A Inglaterra agora teria um sucessor; as coisas melhorariam para o Rei, correto? Errado.
Poucos dias após o nascimento de seu filho, Jane Seymour sucumbe à febre puerperal e vem a falecer. O rei fica desolado. Poucos conseguiram comensurar o peso da perda de Jane sobre Henrique VIII; ela foi a única de suas seis esposa a ter um funeral digno de uma rainha, e a única a ser enterrada ao seu lado em sua tumba (St. George’s Chapel, Windsor Castle). O monarca trajou vestes negras de luto por considerável tempo.
No entanto, Thomas Cromwell, seu primeiro ministro, não iria deixar o Rei em luto por muito mais tempo, ele teria que ter uma nova esposa. A nova escolhida, deu-se por questões meramente políticas. Após o rompimento com o Vaticano, a Inglaterra havia isolado-se comercial e politicamente da nata central da Europa católica, que não mais envolveria-se com um país beirando a heresia protestante.
Foi mais que adequada para este matrimônio político, a jovem Ana de Cleves, cujo a família pertencia à uma estratégica região ducal, excelente para o transporte de mercadorias em barcos. A união de dois reinos não católicos, seria em parte, a peça-chave para anexar a Inglaterra de volta as atividades junto ao continente.
Henrique viu em seu matrimônio com Ana, um desastre eminente. Desde o princípio ele a odiou, sem motivos. Ele alegava que ”ela fedia” e não compartilhava de seus interesses -embora seja necessário ressaltar que ele nunca a chamou de égua de Flanders ou feia. Podemos conjeturar tamanha aversão, apenas como a revolta de uma pessoa que sempre teve o que quis, desgostosa desta vez, em não poder escolher segundo sua vontade.
Cada vez mais perturbado, Henrique buscou consolo em amantes, entre elas a jovem Catarina Howard, prima em primeiro grau de sua segunda esposa, Ana Bolena.
O casamento de Ana de Cleves com o Rei, durou dramáticos 6 meses. Ela possuía duas escolhas, ou recusava a anulação de seu casamento com o monarca e sofria as consequências, ou aceitava e viraria a ”Querida irmã do Rei”, sendo então, a mulher mais poderosa da Inglaterra depois de suas filhas; Ana é claro, aceitou.
A nova consorte Catarina Howard, devolveu ao Rei por tabela sua juventude, tinha por volta de 18/19 anos e exalava mocidade e prazer. O rei inebriou-se. Surgia então uma nova paixão. Henrique fazia de tudo por sua jovem esposa, dava-lhe jóias, peles, tecidos, animais, presentes dos mais caros – muitos acreditavam que a Inglaterra iria à falência com tantos mimos. Catarina cresceu isolada juntamente com outras jovens, criada por sua tia, no que parecia ser um internato para damas de alta estirpe. A pobre Catarina , no entanto, tampouco duraria muito. Acusada de traição e adultério, a jovem foi presa e executada na Torre de Londres, pagando o preço por ser jovem e imatura.
Como estaria a cabeça de Henrique em frente a mais uma esposa morta por suas mãos, mais uma decepção amorosa e mais desgastes em sua saúde? O cheiro fétido de sua perna ulcerada e supurada era notado a corredores de distância, sangrias e unguentos não ajudavam, e o humor do Rei, já bastante alterado, agora ficara ainda pior.
Todos sabiam que Henrique não viveria muito mais tempo, seu peso e problemas de saúde aumentavam a passos largos, suas crises de nervos refletiam-se no governo, em seus funcionários, na Corte e nos inúmeros executados no reino.
Quando colocou os olhos em Catarina Parr, ela sequer ainda havia ficado viúva, mas logo após a morte de seu marido, a vontade do Rei em contrair matrimônio foi prontamente passada à ela. Catarina, assim como as outras esposas de Henrique VIII, não possuía muita opção, a não ser aceitar. O Rei então, casou-se pela sexta vez.
Não foi um casamento fácil, porém, muito proveitoso. Graças à maternal Catarina, as filhas de Henrique foram novamente inseridas na linha sucessória, retornado às graças do Rei. Na figura de Catarina Parr, ele possuía uma amável mulher, que era (ao contrário do que muitos costumam acreditar) mais que uma enfermeira que cuidava de sua perna, e preparava unguentos. Catarina era uma intelectual do período, que amava círculos de debates, desabafava com o rei suas angústias e sim, as vezes até brigava com ele.
Catarina era astuta, inteligente e protestante, algo que quase lhe custara a vida, que por sua vez, fora poupada por seu marido (que até então, por ser um reformador político e não ideológico, possuía uma mentalidade que divergia-se entre catolicismo e protestantismo), quando aos prantos alegou ser inocente das acusações de encabeçar inúmeras revoltas protestantes em solo inglês.
Ao fim da vida, Henrique mostrou-se mais paciente, talvez por rancor de vislumbrar sua própria mortalidade, ou arrependimento de olhar para seu passado. Podemos apenas conjecturar. O acidente de justa, foi apenas uma das muitas hipóteses analisadas por estudiosos de Henrique VIII. Atualmente, é uma das mais prováveis, junto com o desmascaramento da sífilis e uma possível morte por diabetes. O que podemos dizer é que, analisar sua vida sob esta ótica, torna todos estes eventos, muito mais sólidos e palpáveis.
FONTES:
The six wives of Henry VIII – Fraser, Antonia.
Inside the body of Henry VIII – documentário.
Muito bem lembrado o acidente da justa e suas consequências, uma vez que 1536 foi um ano decisivo para transformar Henrique no que ele é conhecido. Mas eu realmente acho que isso pode ter sido apenas um “apressador” das coisas, porque, ao meu ver, o rei já tinha uma tendência a problemas psicológicos, mas quem sabe o que é verdade nessa história, não é mesmo? A única certeza é que o cara ficou louco rs.
Desculpe a demora para responder (e ponha demora nisto, só vi agora!hehehe). De fato, esta é apenas uma das muitas hipóteses que teriam feito Henrique ter um colapso, acho bastante palpável considerando sua gritante mudança de personalidade após o acidente, mas este é apenas o começo, ainda há muito a ser descoberto!
Obrigada por comentar!=)
espero que não demores tanto a responder, mas queria saber, se possível, livros ou artigos dos quais se utiliza para escrever..poderia me indicar uns livros legais cara? abraço
Olá Demétrios,
é uma pergunta um tanto quanto vaga, pois cada artigo, tem o uso específico de um livro ou artigo estrangeiro.
Vou fazer assim, te indicarei bons autores, e com base nisto, poderá encontrar livros do seu agrado, ok!? =)
Recomendo David Starkey, Susan Bordo, Eric Ives, Alison Weir, David Loads, Alisson Sim, Elizabeth Norton, Lacey Baldwin Smith, Leanda de Lisle, Antonia Fraser, entre outros, mas creio que estes, serão ótimos para faze-lo entender sobre muitos aspectos do período.
Espero ter ajudado!
Camila.
Ele no começo de sua juventude era bonito atlético deixava seu irmão para traz em muita coisa, como esse jovem que só era o duque de York, foi se transformar em um dos maiores e mais polemico monarca que a Inglaterra ja teve,Tinha tanto medo de uma mulher assumir o trono que suas duas filhas deixaram uma marca jamais esquecida na Inglaterra e suas seis mulheres o quanto que marcaram o reinado Tudor…Esses dias eu imaginei se um filho do casamento dele com Catarina tivesse sobrevivido essa historia seria completamente diferente e quando alguem te perguntasse: Quem foi Henrique VIII ?
E vc com certeza diria ãhhh quem é esse mesmo…
Como uma historia pode ser tão intrigante assim…? me respondam
De fato Beatriz, se o filho de Henrique e Catarina tivesse sobrevivido, a história iria ser bem diferente.
Acredito que diversos fatores internos e externos, transformaram Henrique VIII nesta figura histórica que conhecemos hoje. Ele é intrigante justamente, por fazer-nos sempre questionar, como a história teria sido, se tudo fosse diferente…
Obrigada por comentar!
Gostaria de saber se nenhum historiador questionou o fato de Henrique VIII ter se tornado o Rei visto que seu irmão mais velho ( que seria o Rei) morreu antes. Será que não houve nenhuma interferência de Henrique (nessa morte do irmão) para se tornar o Rei ? Não é de se duvidar !
Quando Arthur morreu, Henrique era apenas uma criança. Não teria o porque de querer a morte de seu irmão e sequer conseguir fazê-lo, uma vez que seu pai, velava por sua segurança. A morte de Arthur foi prematura, porém, foi um lastimável infortúnio e não culpa de Henrique. 🙂
Um monstro que mandou mandar mulheres e crianças so para ter seu ego satisfeito.. que queime no inferno.