Amamentação no período Tudor

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O manuscrito medieval “Le Chanson du Chevalier du Cygne et du Godefroid du Bouillon” conta a história do Conde do século XI, Eustace e sua esposa Ydain (Yde ou Ida), que deu-lhe três filhos. Ela era considerada diferente por insistir em amamentar ela mesma seus próprios filhos: “Condessa Yde nunca teve que… sofrer por um de seus filhos…eles deveriam ser amamentados por uma dama de companhia.’‘ Quando ela estava na missa e seu filho foi amamentado por outra mulher, Yde sofreu uma extrema reação física: ”Seu coração acelerou e ela caiu em um assento com dores, ofegando e tremendo. Ela teve então um acesso de raiva e seu rosto ficou: ”Negro como um carvão de tanta ira”, e então passou a chamar-se de: ”pobre leprosa”. Esta ”santa e devota” Condessa, sacudiu seu filho até que ele vomitasse o leite que lhe foi dado. Hoje em dia, tal atitude seria considerada abusiva, mas naquele período, seu comportamento foi o que levou a sua canonização! No entanto, nem todas as mulheres medievais e Tudor responderam desta mesma forma. A reação de Yde foi bastante extrema e completamente atípica da maioria das experiências de seus contemporâneos. Muitas evidências sugerem que as mães entregavam seus recém-nascidos para serem amamentados por amas de leite assim que possível.

A amamentação no período Medieval e Tudor era geralmente considerada um inconveniente. Enquanto a principal função das mulheres de classe alta ou nobreza fosse produzir filhos saudáveis, de preferência varões, por outro lado, acreditavam que não lhes cabiam a responsabilidade de alimentá-los . Este trabalho seria destinado a mulheres de classes mais baixas. Um dos motivos era que por aconselhamento médico, elas foram advertidas a não praticarem atividades sexuais durante a lactação, acreditavam que tal ato seria “problemático”, pois poderia resultar em uma nova gravidez, fazendo com que esta, interrompesse o fornecimento de leite para o bebê já existente. A igreja também era contra a amamentação. Outro principal motivo, seria a rápida recuperação da fertilidade da mulher. O aleitamento materno proporciona proteção natural contra a gravidez, atrasando o início do ciclo menstrual, geralmente de seis meses até um ano. O primeiro leite ou colostro, foi inicialmente pensado ser prejudicial para a bebê, porém, isso não impediu as mulheres de classe baixa (que tendiam a seguir a opinião médica), de alimentar os bebês imediatamente, durante cerca de um ano. Registros paroquiais feitos à partir de oito cidades e aldeias em Essex entre 1530 e 1600, indicavam que o intervalo médio entre a concepção de ”novos irmãos” seria de nove meses, apoiando a teoria de que, entre as famílias mais pobres, os bebês estavam sendo amamentados por suas mães. Em Little Clacton, alguns bebês foram concebidos durante os meses seguintes a um nascimento : o intervalo mais comum foi entre sete e doze meses, subindo para um e dois anos. Cerca de apenas 3% de todas as concepções deste grupo ocorreram menos de três meses desde a última atividade sexual, embora o registro não dê nenhuma indicação de classe social. Esta pequena porcentagem pode ter representado as famílias nobres locais. No Sul Ockenden, um padrão semelhante emerge, com concepções subseqüentes, que ocorrem entre dois e três anos, e em seguida, entre sete e doze meses : em apenas dois casos de 114 bebês nascidos vivos, ocorreu a concepção em menos de 3 meses. Este efeito contraceptivo é irônico, dado o ensino religioso sobre os efeitos adversos da cópula durante a lactação : na realidade, muitos casais parecem ter aproveitado-se dela.

Para Rainhas, a entrega de seu bebê a uma ama de leite não foi uma escolha. Esperava-se que elas retornassem suas funções o mais rápido possível. Ana Bolena teve o incomum desejo de amamentar sua filha Elizabeth, considerando as crianças uma bênção : “este ato seria o maior consolo do mundo”, embora até mesmo ela, teve que ceder à pressão de seu papel e Elizabeth foi criada em seu próprio estabelecimento em Hatfield. Era comum que os bebês reais vivessem em palácios diferentes de suas mães. Rainhas e mulheres nobres também tinham deveres significativos para executar em termos de gestão dos bens da família, em particular na ausência de seu marido, o que poderia envolver tudo, desde a gestão interna para receber suplicantes locais de visitantes, até a defesa de sua propriedade, como as cartas de Margaret Paston provam no meio do século XV. Duas das esposas de Henrique VIII, Catarina de Aragão e Catarina Parr atuaram como regentes na ausência de Henrique, durante suas campanhas francesas.

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A rotina de amamentação em tese, incapacitaria e deixaria uma senhora ocupada, e para evitar isso, uma mulher seria nomeada, seja uma dama de companhia ou uma que morasse nas proximidades para amamentar o bebê. Muitas foram recomendadas de boca em boca ou já eram conhecidas da família. Estas mulheres haviam tido recentemente seu próprio filho, e ele deveria ser do mesmo sexo do lactente. Apenas os mais ricos poderiam contratar os serviços de uma Ama para sua própria unidade familiar. De fato, durante o primeiro ano de sua vida, a maioria dos bebês de classe alta foram enviados para as casas de estranhos, cuja adequação foi julgada quase inteiramente em sua aparência física. A Ama de leite foi considerada capaz de transmitir suas características a uma criança através de seu leite, assim que sua dieta fosse boa e saudável, sem muito alho ou alimentos fortes, ela também deveria ser de temperamento bom, natureza plácida e aparência saudável, com pele clara e sem aflições visíveis. Em casas reais, provadores foram nomeados para verificar se a comida não estava envenenada ou muito forte antes que ela comesse. Os bebês eram frequentemente enviados para fora das cidades ou vilas para o campo mais “saudável”. Os pais às vezes contribuíam com uma renda extra para apoiar a dieta da ama de leite ou seu estilo de vida. O médico John Dee fez pagamentos adicionais para itens essenciais como sabão e velas para mulheres amamentando seus filhos na década de 1570. Sua vulnerabilidade também foi reconhecida : os arranjos foram feitos rapidamente para a transferência de crianças de um lugar para outro, quando uma doença ou praga chegava perto da Ama ou de sua morada.

Infelizmente, muitos casos de mortes destas crianças foram registrados nas listas paroquiais, listados pelo nome ou como “uma criança lactante”. Na paróquia de Boa Páscoa, Essex, o enterro de Henry Coot, uma criança enferma de Chelmsford, foi registrado em 18 de abril de 1590 e de Thomas Watt em 28 de Novembro de 1596. “Na Paróquia de Santa Maria Madalena em Essex, foi registrado o enterro de uma criança lactante sem nome em 1599. Os nomes dos pais ou das aldeias em que ficaram com suas Amas não estão listados. Merecidamente ou não, no período elizabetano, as Amas possuíam uma reputação de serem descuidadas. A mortalidade infantil de qualquer maneira era muito alta naquele período, e o primeiro ano de vida provou ser o mais perigoso, porém, estima-se que a taxa de mortalidade de bebês enviados para serem amamentados foi o dobro do número daqueles que haviam sido alimentados por suas mães. As razões para isso podem ser complexas : má alimentação, sendo que a saúde e condições de vida entre as classes mais baixas pode também ser a culpada, além disso, Amas de leite podem ter dividido sua atenção e seu leite, entre vários outros bebês, enfraquecendo ambos. O estereótipo da Ama de leite cansada, esgotada ou indisposta em sobreposição a uma criança precisando de nutrientes no leite, foram muito aceitos para explicar o grande número de mortes infantis no final do século XVII, assim como Amas que aceitavam o serviço para assassinarem crianças a mando de outras pessoas.

Sem dúvidas, muitas Amas de leite importaram-se com os bebês de outras mulheres e cuidaram deles com diligência e carinho. Remédios Folclóricos também foram aconselhados a serem oferecidos para as mulheres durante a amamentação, elas deveriam também, usar uma corrente de ouro ou aço para não empedrar o leite ou ajudar em seu fluxo. Tomar o leite de uma vaca de uma única cor e em seguida, cuspi-lo em água corrente, e engolir um bocado de água seguido de uma recitação de um poema ajudariam o desenvolvimento do leite. Livros de receitas baseavam-se em ervas e ingredientes acessíveis em um contexto doméstico para fazer cataplasmas e curativos. Absinto foi usado para o desmame e era bastante eficaz. Se o leite estivesse fraco ou faltando, os bebês eram alimentados com leite animal, sugavam à partir de trapos ou através de chifres de boi. Quando uma mãe não estava disponível, doente ou morta, a paróquia encarregava-se dos cuidados à criança , reunindo o que devia ter sido um grupo de mulheres adequadas: A criança era mantida neste local até completarem cerca de um ano de idade. Os meninos eram frequentemente amamentado por mais tempo do que as meninas, porém, possivelmente até mesmo até dois anos, uma vez que foram considerados menos independentes. Depois que passava-se um ano, essas crianças podiam permanecer com a Ama ou então ser colocadas na paróquia. Muitas crianças foram retidas pela paróquia e cuidadas pelas Amas mais tarde na vida. Durante este tempo, elas podem ter tido pouco contato com sua família de sangue, retornando para a casa dos seus pais com um certo estranhamento. Quando essas mulheres eram membros da família, elas então tornavam-se governantas ou assistiam a criação das crianças de outras maneiras.

De acordo com Alisson Sim., ao contrário dos dias de hoje, não havia nenhuma boa alternativa para o leite materno, ”O leite de outros animais foi experimentado, era na verdade, uma mistura de pãe e leite feito a fim de assemelhar-se ao leite materno, chamado pap. Infelizmente, as crianças que por algum motivo eram privadas do consumo do leite materno, em sua maioria, acabavam morrendo.

Os anticorpos presentes no leite materno foram e são, vitais para ajudar a fortalecer o sistema imunológico de uma criança, especialmente considerando-se as condições de saneamento do século XVI. Sim afirma que as crianças foram amamentadas por mais tempo do que tendem a ser hoje, naquele período, uma criança com dois anos de amamentação não era algo incomum.

Em seu livro Guillemeau, aconselhou fortemente as mães a amamentarem seus próprios bebês e uma vez desmamados, para alimentá-los com ”sopas de pão, ou mingau” .

Na Corte Tudor:

Após o nascimento da princesa Elizabeth , em 1533 , ela foi enviada para uma creche em Greenwich e cuidada por uma equipe de babás. Como chefe do berçário, estava Margaret , Lady Bryan , que também havia cuidado de Maria Tudor quando bebê.
Outro membro importante da equipe de Elizabeth foi sua ama de leite. Segundo Starkey, esta foi ”uma posição bastante procurada, e a Rainha Ana Bolena, teria recebido muitas indicações de mulheres interessadas ​​em ocupar o cargo…”. Infelizmente, o nome da mulher que foi selecionada para amamentar sua filha é desconhecida.

Curiosamente, Starkey também relata uma história sobre Ana Bolena querer ir contra as tradições, e amamentar sua própria filha, mas Henrique impediu, pois ele não queria ter seu sono interrompido. É uma história interessante, mas Starkey acredita ser infundada, ele afirma que , “o conto é derivado de um relato ficcional, e não tem fundamento.”

Alison Weir , por outro lado, em seu livro ”As seis esposas de Henrique VIII”, relata a história como um fato, embora ela não saiba quando, nem onde tenha surgido.

Encerramento:
A conduta do passado em relação a amamentação materna, tem sido hoje creditada como um dos fatores que contribuíram para o distanciamento nas relações entre pais e filhos no passado. Este tem sido um desafio para os historiadores, reconhecendo que é anacrônico aplicar nossos padrões pedagógicos para as culturas de outros séculos. Na verdade, os pais medievais e Tudor teriam considerado uma excelente oferta para seus bebês arranjar uma Ama de leite adequada, e há muitos casos, tais como John Dee e sua esposa, de grande cuidado em proteger ambos os lados. Atitudes modernas em relação a amamentação pode ter mudado, mas, ironicamente, eles colocaram a mãe que amamenta no século XX mais perto da experiência das mulheres pobres do passado.

FONTES:

Author her storian parent: AQUI.

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5 comentários Adicione o seu

  1. Aquí no Brasil o comportamento das mulheres ricas era o mesmo dos Tudors na Inglaterra.Só que aquí elas entregavam seus lactentes as amas negras escravas de leite.Só não faziam tanta questão se eram saudáveis ou inteligentes desde que tivessem leite suficiente para amamentar seus bebês.Amamentar é um trabalho de amor, demorado de 3 em 3 horas e as “dondocas” não queriam se dar ao trabalho.Não sei se não é assim até hoje. As pseudos mães existem até nos dias de hoje. Pobres bebês inocentes e tão vulneráveis.

    1. tudorbrasil disse:

      Exatamente, a história do Brasil em relação a amamentação dos bebês ricos, lembra bastante os abastados bebês lactantes Tudor…
      Obrigada por comentar Mary, volte sempre!=)

  2. Amelina disse:

    Concordo!!!! É muito cômodo ter filhos e não ter trabalho e ”dar” para babás cuidar enfiando mamadeira com fórmulas para enche-lo pro várias horas. Pois esse ”trabalho” eu faço questão de ter, amamento meu filho até o dia que ele quiser, mesmo que isso signifique acordar várias vezes durante a noite, ter peitos disponíveis durante o dia e deixas por um tempo a vida social de lado, faço isso por amor e com muito prazer!!!!

  3. Janaina Ribeiro disse:

    As amas de leite do passado foram substituídas por formulas de leites para recém nascidos e mamadeiras,amamentei exclusivamente até os 6 meses e ainda amamento minha filha tem 2 anos e 4 meses,até hoje escuto criticas por meu comportamento,mas minha filha nunca teve cólica ou qualquer outra enfermidade.

    1. tudorbrasil disse:

      De fato a amamentação é insubstituível, tanto pelo ato que é saudável para ambos, quanto pela ligação que é criada entre mãe e filho!=)

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