Em pleno verão – no final de Junho de 1533 – Maria Tudor, antiga Rainha da França, morreu em sua residência de Westhorpe Hall, em Suffolk. A bela Maria Tudor, era irmã mais nova de Henrique VIII e tinha apenas 37 anos na época de sua morte. Em seus últimos dias, Maria esteve cercada de poucos atendentes em sua propriedade e longe de Charles Brandon – seu marido, que não esteve ao seu lado em seus momentos finais.
É importante dizer, que a saúde de Maria, foi deteriorando-se com o tempo. Ela já estava com a saúde debilitada a alguns anos, pois havia sofrido da doença do suor, em 1518 e nunca recuperou-se completamente; algo que deflagrou ocasionalmente. Ela também pode ter exibido os primeiros sinais da doença que eventualmente a matou – a maioria acredita ser câncer. Ela esteve presente em várias funções na Corte ao longo dos anos, porém ia com cada vez menos frequência. Embora parte desta ausência se devesse a sua condição física, outra parte era bem mais pessoal; Maria não sentia-se confortável com as atitudes de seu irmão perante sua esposa, Catarina de Aragão – amiga de longa data.
A última aparição oficial de Maria, foi para o casamento de sua filha Frances com o jovem Marquês de Dorset, em Suffolk Place. Segundo o embaixador espanhol, era notório o desagrado e inimizade que Maria nutria por Ana Bolena – amante de seu irmão. Devido a estes contratempos, ela afastou-se da Corte e retirou-se para sua vida privada. Após o casamento de sua filha, Maria viajou rumo a Westhorpe, junto de sua filha mais nova, Lady Eleanor Brandon. Pouco tempo após seu retorno, notou-se que ela estava seriamente doente.
Nos momentos finais de Maria, seu marido Suffolk, foi encarregado da coroação da nova Rainha. Ela havia visto seu marido no início de Maio, porém rapidamente, pois suas funções naquele momento, o mantinham bastante ocupado. A morte de Maria não foi considerada importante, afinal, a maioria das pessoas estavam mais preocupadas com o nascimento do filho varão da nova esposa de Henrique VIII – Ana Bolena.
Após a morte de Maria, seu corpo foi embalsamado e um caro e elaborado funeral foi realizado. O corpo foi levado em procissão até a Abadia de St Edmund’s-Bury, onde seus restos mortais foram recebidos e enterrados, com a devida honra e reverência de seu estatuto. Com o relacionamento com sua outrora mais querida irmã, bastante abalado, Henrique ordenou que missas de réquiem fossem cantadas na Abadia de Westminster, mas não mostrou nenhum outro sinal de luto. Ele encontrava-se afinal, no meio da Reforma. Charles Brandon não compareceu ao funeral. O caixão passou um mês em Westhorpe e foi enterrado na igreja de St Edmund’s-Bury, em 22 de julho.
A morte de Maria foi talvez mais lamentada e sentida, no Condado de Suffolk, onde ela havia sido uma figura popular e respeitada. Charles rapidamente casou-se novamente – algo típico devido seu histórico afetivo.
Exumação e Túmulo:
A igreja de St Edmund’s-Bury, onde Maria fora sepultada, foi destruída durante a dissolução dos monastérios. No entanto, seu caixão foi salvo e transferido para uma igreja próxima, chamada St Mary. Em 1784, ele foi transferido novamente dentro desta igreja.
Em 1731, o túmulo de Maria Tudor foi aberto. O acontecimento, deveu-se a uma remodelação na igreja onde encontrava-se sepultada. Porém, ao descobrirem que nele continha o caixão de uma senhora da realeza, esta intenção foi abandonada – por um tempo. O caixão foi deixado imperturbado. Em 1742, o túmulo foi reparado às custas do Reverendo John Symonfs de St Mary. Por volta de 1751, o túmulo foi reparado e aparentemente, o caixão foi em seguida examinado – porém não totalmente aberto. Em 1757, colocaram uma placa de mármore com a seguinte inscrição: –
”Sagrado a memória de Mary Tudor, terceira filha de Henrique VII – Rei da Inglaterra, e Rainha da França; que casou-se em 1514, com Luís XII – Rei de França e depois, em 1517, com Charles Brandon – Duque de Suffolk. Ela morreu durante a vida dele, em 1533, na mansão de Westhorp. Ela foi enterrada neste mesmo ano, no Mosteiro de St. Edmund’s e depois removida para esta igreja, após a dissolução da Abadia”.
Ele seria novamente aberto, no dia 06 de setembro de 1784. A tumba em si, foi desmontada e o caixão, colocado “em uma sepultura, não mais profunda que o necessário para o caixão descansar sobre ele, ao nível do resto do pavimento.” (Samuel Tymms – Um relato histórico e arquitetônico da Igreja de St Mary, Bury St Edmund).
Em Setempo de 1784, algumas mechas de cabelo de Maria, foram retiradas durante a rápida exumação de seu corpo. Uma destas mechas, acompanhada de um manuscrito, foi vendida para a Duquesa de Portland, Margaret Cavendish Bentinck, uma ávida colecionadora de artefatos históricos. O manuscrito feito por John Cullum – dizia o seguinte: –
“6 de Setembro de 1784. Um funcionário de St Mary’s, em Bury St Edmund’s, projetou remover o monumento do altar da rainha francesa, que encontrava-se na ala nordeste da capela-mor e obstruía a passagem para os corrimões da mesa de comunhão do local. Eu, juntamente de alguns presentes, examinei-o. O caixão repousava sobre uma tábua dentro do túmulo e não afundado por terra; era de chumbo, de 1,87 de comprimento, quase da forma do corpo, com uma grosseira representação do rosto, parecido com caixões de múmias.
Sobre o peito – que havia sido alisado e polido – foi grotescamente gravado: “Maria Rainha da França, 1533, Edmund H.” Ao abrir o caixão, o cadáver possuía uma cor marrom escura. Ele havia sido embalsamado – conforme diz Sandford – porém a complexão encontrava-se extremamente úmida, talvez, devido a uma pequena incisão que foi feita no caixão por volta de quinze anos antes, que embora soldada novamente, sem dúvidas, comportou uma massa de ar fresco. Sejam quais forem as gomas e resinas que foram utilizadas, elas perderam sua tenacidade. As ataduras que envolviam o corpo eram, é claro, de linho e devido a sua extrema fragilidade, custou-me para recolher um pedaço delas. Parece ter pelo menos dez pregas deste material; elas deram lugar ao estômago, pelo qual verificou-se que o interior do corpo havia de algum modo, sido preenchido com alguma substância calcária – sem dúvida, para absorver toda a umidade que pudesse segregar-se. O buraco dos olhos, também foi preenchido com a mesma substância – como provavelmente também foi o crânio, se o cérebro houver sido retirado; mas isto não foi examinado, pois muito pouca perturbação, fora dada aos restos reais.
O cabelo estava perfeitamente sadio, mantendo a força original e aderindo intimamente ao crânio. Era muito longo, com cerca talvez, de 60 cm. e de uma bela cor dourada, como a de sua mãe, no momento de seu casamento. Os dentes estavam todos inteiros, tanto os de cima, quanto os debaixo. Algumas partes dos envoltórios de linho, sofreram perfurações com cerca do tamanho de uma pequena agulha de tricô; se foram feitos por insetos (conforme denota a aparência) os ovos destes insetos devem ter sido depositados ou antes do fechamento original do caixão, ou em sua abertura, cerca de quinze anos atrás – conforme anteriormente mencionada. Em ambos os casos, é um curioso exemplo de como a vida animal, pode existir sem a renovação do ar”.
Sir John Cullum cita que o copo não foi perturbado, além da coleta de algumas amostras de cabelo. Os envoltórios de linho foram deixados intactos. Podemos, portanto, supor que o próprio corpo não foi amplamente analisado. O caixão, no entanto, foi medido. Porém, apesar de Cullum observar que era “quase da forma do corpo”, com o chumbo provavelmente moldado para envolver bem o corpo de Maria, é mais prudente assumir que não sabe-se exatamente o tamanho do corpo em seu interior. Por exemplo, se seu corpo estivesse inchado – o que acontece após a morte – o caixão teria de ser consideravelmente mais comprido, a fim de acomodar o maior comprimento total do corpo.
Houve certa discussão sobre a pigmentação do cabelo. Várias outras amostras foram retiradas em 1784, mas a de um comprador nos últimos anos, variou de tonalidade. Algumas eram de um “vermelho aberto”, enquanto outras eram, quase ruivas. É importante primeiramente lembrar, que o pigmento vermelho, é a última cor a dissipar-se dos fios – o pigmento base.
Em todo modo, a mudança na coloração das mechas, foi atribuída a acomodação dos fios. Algumas das amostras, ficaram expostas a um tipo de “salmoura”, ou material “extremamente úmido” na parte inferior do caixão de Maria, causando a diferença na tonalidade.

A enorme coleção da Duquesa de Portland, foi desmontada e vendida em 1786, um ano após sua morte. O Duque de Chandos – James Brydges, adquiriu a mecha de cabelo de Maria, assim como o manuscrito de Cullum na venda, pela soma de seis libras e dez xelins. À partir do Duque de Chandos, ela passou para o marido de sua única filha, Richard Temple-Grenville, Duque de Buckingham e Chandos. Após a morte de Temple-Grenville, a mecha foi vendida, em 1848, ao Sr. Owen de New Bond Street, Londres, por sete libras e dez xelins. À partir de então, ela desaparece dos registros.
A mecha do cabelo de Maria seguidas do manuscrito de Cullum, também é citada no catálogo The Stowe: –
”Esta interessante relíquia, é uma mecha de cabelo retirada do cadáver de Maria Tudor – filha mais nova de Henrique VII e Rainha de Luís XII da França. Quando seu caixão foi aberto: “Sir John Cullum, que era uma das partes presentes quando o corpo foi exumado, entregou a mecha à Duquesa viúva de Portland. Na venda de sua coleção, em 1786, ela foi comprada pelo último Duque de Chandos “O próprio descendente da princesa, por seu subseqüente casamento com Charles Brandon – Duque de Suffolk.”. A mecha de cabelo, que tem bem mais de 30 centímetros de comprimento, e de belíssima cor dourada brilhante, foi fechada em uma caixa de vidro. Esta aquisição exerceu considerável interesse a Putkny, porém foi adquirida por Sr. Owen, no dia 6 de setembro de 1848. O primeiro lance foi contudo, muito baixo e poucos apareceram para adquiri-la por 20 xillings, o montante adquirido anos antes”.
Maria foi uma mulher incrível, que seguiu seu coração, derrubou protocolos e casou-se por amor. Infelizmente, assim como muitos personagens do período Tudor, ela permanece envolta em mistério e desconhecimento. Para nós, ela sempre será lembrada como mãe amorosa, esposa dedicada, irmã zelosa e amiga admirável. Descanse em paz Maria Tudor.
Bônus: Assistam o vídeo feito por um visitante do túmulo de Maria Tudor:
FONTES:
History Of, and Guide To, Bury St. Edmund’s; Barker, Horace Ross.
The Stowe catalogue.
Tudor History.org – Mary Tudor Brandon.
Tudor Place: AQUI.