No final de contas não devemos esquecer que a maior parte desta produçãoliterária foi escrita por homens celibatários, o que sem dúvida terminou por refletir
suas convicções, desejos e fobias com relação à mulher. (NASCIMENTO, 1997, p.5)
O contexto que denominamos didaticamente como Idade Média, refere-se à história européia que compreende os séculos V ao XV, isto é, o período que vai da queda do Império Romano do Ocidente em 476 d.C – com capital em Roma -, até a queda do Império Romano do Oriente – com capital em Constantinopla -, em 1453. O período medieval tem seu início no século V com as invasões germânicas, também conhecidas como invasões bárbaras – estes, recebiam tal denominação, pois eram povos que não faziam parte do Império Romano. Os germanos eram constituídos por várias tribos, dentre elas, podemos citar os visigodos, anglos, saxões, vândalos e francos.
A sociedade e a economia na Idade Média, eram estruturadas pelos laços de suserania e vassalagem. Tornava-se suserano aquele que doava o feudo (porções de terra) e vassalo aquele que recebia o feudo. A doação de uma faixa de terra tinha como finalidade o estabelecimento de relações de fidelidade e compromisso para com os suseranos. Os vassalos comprometiam-se em trabalhar para o senhor feudal e o suserano outorgava a proteção. O poder político e social era concentrado nas mãos dos senhores feudais e, deste modo, uma das principais características econômicas deste período é a prática da agricultura. A Igreja Católica possuía forte peso na condução da vida da sociedade, além ser considerada como a única detentora da fé, demarcava os costumes e comportamentos. Além da influência religiosa, a Igreja detinha poder econômico, pois, era proprietária de extensas faixas de terras e possuía inúmeros servos que trabalhavam em suas propriedades.
Certamente, muitos dos nossos leitores receberam, durante a trajetória escolar, explicações sobre a Idade Média, e nestas ocasiões, talvez lembrem-se da seguinte expressão: “A Idade Média é também conhecida como o período das “Trevas”. Antes de abordar o papel da mulher neste contexto, precisamos desmitificar tal concepção errônea deste importante período da história da Europa. A difusão dos termos, “Trevas”, “Escuridão” para designar este contexto, despontou em razão da profusão de conhecimentos científicos, filosóficos e culturais do Renascimento Comercial Urbano, principalmente a partir do século XII. Estas alterações tiveram forte impacto na sociedade e, igualmente foram responsáveis por promover alterações no modo de vida, tais como: o surgimento de burgos (cidades) e as pioneiras experiências do capitalismo.
Neste sentido, o tempo histórico anterior ao Renascimento, que é caracterizado pela ruralização da economia e pelo intenso poderio da Igreja Católica, recebeu de modo equivocado a alcunha de “Idade das Trevas”. Foram principalmente os filósofos Humanistas do século XVII que contribuíram para a difusão deste termo, pois consideravam que o contexto de predominância da religiosidade na condução da vida em sociedade havia sido um tempo ‘obscuro’. Ademais, este foi um período de intensas tragédias na Europa, a peste dizimou milhares de pessoas, muitas doenças e epidemias massacraram a população, como a peste bubônica, além das invasões bárbaras, do qual tratamos no início deste texto. As produções historiográficas, durante este vasto período, foram influenciadas por concepções que reforçaram a ideia de que Idade Média e retrocesso eram praticamente sinônimos.
Progressivamente, as pesquisas contemporâneas revelam reflexões significativas que refutam a alcunha pejorativa. O acesso a educação era restrito as camadas mais abastadas, e, a maioria da população era analfabeta. A Igreja Católica controlava a difusão dos conhecimentos e a sociedade tinha uma vida regida pela fé. No entanto, o historiador Jacques Le Goff, referência em estudos sobre Idade Média, ressalta que esta, foi “(…) uma época não de trevas e nem imune ao progresso; ao contrário, foi uma época fértil de invenções vitais e importantes (…)”.(LE GOFF, 2007). Sendo assim, várias áreas foram desenvolvidas ao longo dos séculos V a XV. O aperfeiçoamento das técnicas de arquitetura foi notório, em que podemos identificar a construção de enormes castelos, pontes, fortificações e catedrais. Nas artes, as produções não podem ser ignoradas. A maioria das pinturas e esculturas era voltada a arte sacra, ou seja, aos temas religiosos; no entanto, as técnicas foram aprimoradas e, a decoração de igrejas, catedrais e castelos eram suntuosas. Também não podemos deixar de fazer menção a evolução das técnicas de produção agrícola, como por exemplo, a criação de moinhos, a roda d’água e o uso da força motriz. O uso destes instrumentos foram responsáveis pelo aumento da produção agrícola, que resultou na ampliação das trocas comerciais, e do comércio a partir do século XII. Temos ainda, o surgimento de invenções importantes, como a bússola e o astrolábio, estes recursos fundamentais para as navegações, além é claro da invenção da imprensa. A invenção das máquinas de impressão foi essencial para ampliação da reprodução de livros.
Desta forma, pensar o período Medieval significa refletir sobre a complexidade de fatos e processos que desenrolaram-se ao longo de dez séculos (V ao XV). Não é possível definir um longo contexto histórico mediante o uso de termos ou adjetivos que reforçam preconceito, isto é, o desconhecimento dos fatos. Por isto, neste artigo refletiremos sobre o papel da mulher na Idade Média. Propomos pensar o papel da mulher para além da perspectiva de que elas eram exclusivamente voltadas para a vida doméstica e religiosa. Nesta possibilidade analítica não iremos desconsiderar que a religiosidade tenha tido papel relevante na condução da vida da mulher na sociedade medieval.
Antes de prosseguirmos, cabe uma ponderação. A nossa pretensão não é estudar a mulher deste período histórico no intuito de resgatar uma possível ‘aura feminista’ da época. O feminismo é um fenômeno histórico com origem século XIX, e que compreende as lutas das mulheres pela igualdade. Tal fenômeno teve suas ações alargadas em vários países ao longo dos séculos XIX ao XXI. Deste modo, não é nosso objetivo desenvolver análises anacrônicas. Muito pelo contrário, consideramos interessante trazer a tona estudos que nos oportunizam a ampliação dos nossos conhecimentos acerca do lugar e papel das mulheres na Idade Média. Sendo assim, concordamos com a concepção da historiadora Maria Filomena Dias Nascimento, segundo o qual os estudos gênero são fundamentais para entender a dinâmica da mulher na sociedade e sua interação com os homens. Não nos alicerçamos em uma perspectiva que desagrega homens e mulheres como sujeitos que devem ser analisados de maneira separada, mas pensar na mulher em sua complexidade ao longo dos contextos históricos. Ainda, nas palavras de Nascimento:
“Cremos firmemente que a mulher é um ser social, e como tal deve ser estudada; a mulher vivendo em sociedade, em interação com o homem. Como bem ressalta Reyna Pastor ao separar a história da mulher da história do homem, termina-se por impossibilitar a compreensão do verdadeiro grande tema, que é a sociedade, ou o corpo social. Talvez seja este o momento de redirecionar o enfoque que se vem dando aos estudos feministas. Mais do que se preocupar em fazer História da Mulher, pensamos que seria mais produtivo e enriquecedor estudar o papel da mulher na História. Esta preocupação está muito longe de ser algo meramente retórico. Ela é fruto da prática de pesquisa. Ela é fruto da realidade histórica que o historiador encontra nos documentos. Em suma, ela é fruto da constatação de que o cotidiano do homem ou da mulher de qualquer época histórica pode romper qualquer arcabouço teórico, e de que a existência humana vai muito além da oposição entre o preto e o branco; ela permite infinitas possibilidades de cores e matizes”. (NASCIMENTO, 1997, p.3)

Selecionamos para a epígrafe deste artigo, um pequeno trecho do trabalho da pesquisadora Maria Filomena Dias Nascimento. A autora ressalta o fato de que a maioria das produções do período medieval era elaborada por homens. Aspecto que é correto. Conforme mencionado no transcurso deste texto, a Igreja Católica possuía primazia na produção dos conhecimentos e, desta forma, a maioria das obras veiculadas eram produzidas por homens religiosos que viviam em monastérios e igrejas. Não é difícil concluir que, os livros e textos faziam menção à maneira pela qual as mulheres deveriam se comportar para que pudessem ser aceitas pela sociedade. E, em maior medida, os livros que eram permitidos para as mulheres eram voltados à vida religiosa, como orações e bíblias.
No decurso do seu trabalho, Nascimento afirma que a produção literária da época era escrita em sua maioria por homens celibatários e, desta forma refletiam as concepções religiosas do período. Neste ponto, a autora exemplifica que a imagem da mulher era exposta como aquela capaz de ‘denegrir’ a sociedade, em menção ao casal bíblico, Adão e Eva. De acordo com o discurso bíblico, Eva foi à responsável pela expulsão do homem do paraíso ao ter corrompido Adão e traído a confiança de Deus. Sendo assim, o comportamento social da mulher medieval estava em volto dessa ‘culpa’, e a condição

feminina na sociedade era algo fortemente controlado.
Para os membros do clero, a mulher representava um “perigo carnal e espiritual a ser evitado” (NASCIMENTO, p.5). Este discurso era fortemente propalado pelos membros do clero. Ademais, o período medieval era marcado não apenas pela profunda religiosidade, mas por uma sociedade que nutria várias crenças e superstições, dos quais, farta parcela delas a Igreja mantinha como forma de controlar a sociedade.
“Neste sentido, por exemplo, é bastante emblemático o significado de corrupção moral que adquiriu a menstruação. Acreditava-se que o sangue menstrual impedia a germinação das plantas, matava a vegetação, oxidava o ferro e transmitia raiva aos cachorros. Estas crenças terminaram por ajudar a justificar fatos tão transcendentais como a negação masculina em permitir a participação ativa da mulher nas missas, assim como a proibição de tocar os ornamentos sagrados e, finalmente, sua exclusão das funções sacerdotais”. (NASCIMENTO, 1997, p.5)
Diante de tais considerações, não fica difícil imaginar que a vida da mulher além de bastante controlada era limitada. De acordo com a pesquisadora Maria Filomena Dias Nascimento é preciso ficar atento a complexidade das relações sociais em um universo tão amplo quanto à abrangência de dez séculos. Na maioria das vezes, a nossa concepção de que a vida da mulher medieval era limitada se dá em razão de, em farta parcela das produções, termos a noção de casamentos arranjados realizados pela nobreza e pelas camadas mais abastadas pela sociedade. Claro que esse panorama foi real, no entanto, não podemos generalizá-lo. Muitos nobres e membros da realeza realizaram casamentos a fim manterem status político e econômico. No entanto, muitas mulheres neste contexto tiveram a oportunidade de administrar propriedades e gerir negócios. Muitas delas assumiram posições de autoridade no seio familiar em razão do falecimento dos maridos ou dos familiares responsáveis. Em situações como estas não foi incomum a mulher ter ocupado cargos de gestão, inclusive no comércio. Apesar das restrições, mulheres tiveram a oportunidade, por meio do trabalho, de alçarem a sua emancipação, em atividades como, artesãs e pintoras. A historiadora Julie Pilorget cita o exemplo de mulheres que trabalharam em padarias e que, em alguns casos, esposas auxiliaram seus maridos na administração de tecelagens:
“Complementariedade idêntica encontrava-se na cidade, nos ateliês de comerciantes e artesãos. As esposas cuidavam do estabelecimento e muitas vezes tinham a instrução necessária para gerir a contabilidade. Elas sabiam, portanto, escrever e contar. Eram dependentes do marido, mas dirigiam empregados e aprendizes. Os contratos de aprendizagem conservados dos séculos XIV e XV mostram que o aprendiz ficava sob a direção tanto de mestres quanto mestras. Essa autoridade era aceita. O jurista florentino Francesco da Barberino dedicou um capítulo inteiro, em seu Regime e costumes das damas (1318-1320), ao bom comportamento das mulheres no trabalho. Disse à comerciante: “Se você se tornar uma padeira, não corte um pão para dele fazer dois (…). Não admita em sua padaria as conversas perversas e não deixe que os empregados façam alianças contra a sua mestra”. (PILORGET)
Historiadores concordam que, no cotidiano do campo as responsabilidades pelo cultivo da produção e administração das terras eram muitas vezes igualitárias, muito embora, em termos teóricos e gerais, a sociedade estivesse enviesada pela primazia do homem frente à mulher. Além disso, atividades que exigiam maior emprego da força eram destinadas aos homens. A partir da pesquisa realizada pela historiadora Maria Filomena Dias Nascimento poderemos responder o seguinte questionamento: Existiram senhoras feudais?
Acredito que para a surpresa de muitos de nossos leitores, sim, podemos afirmar que existiram mulheres que eram senhoras feudais. Mulheres foram proprietárias de extensas faixas de terras e as administraram tão bem quanto os homens, ou seja, quanto os senhores feudais. Nascimento recorreu à documentação disponível em alguns mosteiros espanhóis: “Consultando os arquivos dos mosteiros cistercienses femininos de León (San Miguel de Las Duenas, Santa Maria de Gradefes, Santa Maria de Carrizo, Santa Maria de Otero de Las Duenas e San Guillermo de Villabuena) (…)” (NASCIMENTO, p.6). Os referidos mosteiros foram construídos nos séculos XII e XIII com o objetivo de se tornarem fortificações da alta nobreza, destinada à clausura de mulheres que não estavam destinadas a obrigação do casamento. É preciso ressaltar que, neste período, o recolhimento à clausura religiosa era algo valorizado, e muitas famílias destinavam filhos e filhas para a vida junto à Igreja. De acordo com a pesquisadora, a construção de monastérios exclusivos para as mulheres pela nobreza se deu em razão da rarefeita existência de monastérios femininos. Nesse sentido, muitos nobres empregaram recursos para realizar estes empreendimentos religiosos. No entanto, foi nestes ambientes que as mulheres puderam gozar de maior autonomia em suas vidas sem a intromissão de homens, nem tão pouco familiares na administração dessas instituições:
“De fato, ao longo de nosso trabalho de pesquisa pudemos constatar que existia um projeto feminino de construção de um lugar de acolhida para as mulheres da família, longe da ingerência masculina,a partir do qual elas podiam exercer um papel protagonista dentro da sociedade feudal, tal e como requeria sua condição de nobres.” (NASCIMENTO, p. 6)
Por meio da figura da Abadessa, principal cargo religioso, eram estruturadas as relações de poder nos monastérios, a semelhança do que ocorria com os grandes senhores feudais. A abadessa tinha controle na administração dos monastérios e era reconhecida como figura de destaque entre as demais mulheres nobres, as monjas que residiam no convento. Estratégias para estabeleceram contato com o mundo exterior também foram implementadas, dentre as quais, os servos e servas dessas mulheres realizaram diversas trabalhos solicitados, como entrega de correspondências, compras de mercadorias, e trabalho na lavoura. De acordo com as pesquisas feitas por Nascimento, a aquisição e compra de propriedades foram atividades recorrentes e, de igual maneira, mesmo na clausura, monjas prosseguiram administrando seus patrimônios pessoais:
“Dentro dos muros conventuais estas mulheres não encontraram dificuldades para seguir gerenciando seus patrimônios pessoais e podemos afirmar que, neste sentido, os mosteiros revelaram-se como lugares especialmente atrativos. Longe do controle familiar, estas mulheres administraram seus patrimônios como quiseram.” (NASCIMENTO, p.7)

As monjas se integraram de modo eficaz a dinâmica do sistema feudal por meio da constituição de várias unidades de produção nas extensões de terras adquiridas. Esses feudos desempenharam significativa rentabilidade. Ao contrário do que comumente podemos imaginar sobre o que seria a vida de uma mulher religiosa, nas investigações realizadas pela historiadora Nascimento, a mesma pôde concluir que a clausura não era algo rígido para as mulheres dos mosteiros pesquisados. Isto é, embora tenham sido guiadas para uma vida religiosa (cabe ressaltar que na maioria dos casos esta era uma determinação familiar, e nem sempre era desejo pessoal) essas mulheres constituíram uma vida autônoma, apesar das normas sociais que eram impostas. Prosseguiram administrando seus bens, bem como os bens adquiridos através da administração dos monastérios, ou seja, seus feudos. Não foi incomum encontrar documentos que comprovassem o contato com atividades ligadas ao mundo externo, como por exemplo, atenção aos parentes em dificuldades financeiras e de saúde. De igual maneira, é possível afirmar que elas administraram com presteza e dedicação suas propriedades:
“Perfeitamente integradas na economia senhorial da região e de sua época, as monjas utilizaram o prestimôniocomo forma preferencial de exploração de seus domínios. A exação senhorial era exigida principalmente em espécie, com preferência para os pagamentos em cereais e vinho. As referências a pagamentos em moeda estão basicamente restritas à satisfação de multas geradas pelo exercício do senhorio jurisdicional. Desta maneira, e através do sistema de exploração adotado, se comprova mais uma vez sua participação no processo de feudalização da região, refletido na capacidade de organização do espaço, impondo diretrizes à comunidade camponesa sobre a ordenação populacional e sobre a disposição e qualidade da produção.” (NASCIMENTO, p.8)
A clausura não era algo totalmente estabelecido, as mulheres frequentemente saíam para resolver as pendências administrativas do feudo e para solucionar seus assuntos pessoais. Mesmo aquelas que não se ausentavam dos monastérios tinham contato com membros do clero e com familiares, haja vista que, muitas recebiam visitas e não era incomum a chegada de viajantes a procura de abrigo. De igual modo, não residiam nos monastérios apenas as mulheres dedicadas à vida religiosa, mas também os servos, servas e criadas. De acordo com Nascimento, a partir do século XIII a Igreja passou a ostentar maior controle nas saídas das monjas, que freqüentemente justificavam suas ausências diante da necessidade de administrar seus domínios. Todavia, se tornou crescente os boatos de escândalos entre as religiosas, como casos amorosos e a ocorrência de filhos bastardos.
Interessante ressaltar que, estas informações coletadas, nos dão mostras de que as mulheres ‘enclausuradas’ puderam usufruir de certa autonomia em suas vidas e constituíram uma infinidade de relações, inclusive amorosas. Aspecto que, progressivamente, imputou o desejo de maior controle da Igreja em suas administrações. A intromissão da Igreja (homens) em seus monastérios não foi aceito de maneira submissa e, por conseguinte resultou em vários conflitos e movimentos de resistência.
Não obstante, para a proposta deste artigo, consideramos importante reforçar o protagonismo dessas mulheres que, diante da obrigatoriedade em seguir uma vida religiosa, encontraram alternativas para guiar seus próprios destinos. Não desconsideramos o fato de que nesta conjuntura a vida das mulheres em sociedade era marcada pela rigidez das normas sociais, nem tão pouco que a religiosidade teve papel norteador nos hábitos e costumes. Estes fatores tiveram influência, tanto que foram necessárias a criação de estratégias que pudessem coadunar em uma vida de maior liberdade. Ou, como no caso analisado por nós, o proveito da oportunidade de uma vida distante das ingerências familiares, os mosteiros. Apesar de o perfil das mulheres que abordamos neste texto estar atrelado a membros da nobreza e classes mais abastadas, que era senão uma pequena parcela da sociedade cumpre destacar que, estes foram exemplos de mulheres que constituíram estratégias que resultaram em uma maior liberdade para conduzir seus destinos.
Referências/Fontes:
LE GOFF, Jacques. A vida material (séculos X-XIII). In: A Civilização do Ocidente Medieval. Bauru, São Paulo: EDUSC, 2005, pg. 191-256.
LE GOFF, Jacques. Os Intelectuais na Idade Média. Lisboa: Gradiva, 1984, pg.11-31.
NASCIMENTO, Maria Filomena Dias. Ser mulher na Idade Média. Revista Textos de História. v. 5, n. 1 (1997). Disponível em: < http://www.periodicos.unb.br/index.php/textos/article/download/5807/4813. > acesso em janeiro de 2016.
MACEDO, José Rivair. Viver nas cidades medievais. São Paulo:Moderna, 1999 (Coleção desafios).
PILORGET, Júlia. Dossiê Mulheres na Idade Média: a emancipação pelo trabalho Disponível em: < http://www2.uol.com.br/historiaviva > acesso em 01 de fevereiro de 2016.
Excelente e sublime texto, além do trabalho da historiadora Maria Filomena Dias Nascimento ser simplesmente excepcional. Sobre a influência que a narrativa de Gênesis ou de outros livros do Antigo Testamento tiveram sobre as crenças e a mentalidade da Igreja medieval a respeito da posição e do espaço das mulheres na sociedade, acredito que as obras de antigos filósofos gregos como Aristóteles exerceram o mesmo grau de influência, ou talvez ainda mais dependendo das especifidades do período, que as narrativas do Antigo Testamento na criação e difusão dessa mentalidade , pelo que eu sei os filósofos, pensadores e teólogos do medievo – a partir dos século XII e XIII, pelo menos, com os trabalhos de Roger Bacon, Alberto Magno, São Boaventura e São Tomas de Aquino e a difusão da Escolástica pela Europa – valorizavam Aristóteles e suas obras quase na mesma estatura que valorizavam as Sagradas Escrituras, e como o Estagirita mesmo diz em ”Política” Livro I: “A relação do macho face à fêmea é naturalmente, a do superior para o inferior; o macho é governante, a fêmea, o súdito…” Imagino que para um bispo, cardeal, abade ou mesmo um monge beneditino, franciscano ou agostiniano do período o fato de poder ler isso e passagens similares nesse em outros livros vindas da obra do grande Aristóteles, o preceptor de Alexandre, o Grande, aquele que era chamado de ”Mestre” por gerações e gerações de filósofos que o sucederam deve ter reforçado muito as interpretações do Antigo Testamento que eles já eram ensinados a ter a respeito da posição e espaço das mulheres.
Eu simplesmente adoro os seus comentários. Acadêmicos e muito aprofundados! Obrigada por comentar!!
Posso adaptar este texto para leitura em sala de aula no ensino fundamental? Obrigado desde já!
Oi Pedro? Fiquei muito feliz com o seu comentário 🙂 Conhecimento precisa ser difundido mesmo. A minha única ressalva é fazer menção a Tudor Brasil nas referências. No mais, utilize a vontade em suas aulas, ficamos muito felizes em saber que o que produzimos é utilizado por outras pessoas ❤
Gostei do texto, da um novo olhar sobre a questão, no entanto fiquei sentindo falta de uma coisa nos comentários (como não sou estudiosa do assunto, vai em forma de pergunta): as opiniões negativas sobre a dominância da fé e sobre a situação das mulheres na época não seria fortemente justificada pelos dois itens não mencionados da caça às bruxas e dos métodos de tortura pesquisados e desenvolvidos pela igreja? Porque mesmo desconsiderando os filmes e produções culturais populares sobre o assunto o próprio número de mulheres que se acredita terem morrido já é bem alto.. A sensação que tive é de que ali nos capítulos iniciais, esta questão é um pouco minimizada, então só queria saber se minha ideia sobre tais concepções do medievo estão corretas..
Oi Natiikul!
Que bom que gostou do texto! 🙂 Bem, em relação ao seu questionamento, sim, embora não tenhamos aprofundado nos aspectos relacionados a perseguição que a mulher sofria na Idade Média, sobretudo, aquelas que se comportavam fora dos ‘padrões’ estabelecidos como adequados pela sociedade e pela Igreja, de fato, tem influência direta no lugar e papel desenvolvimento pela mulher. Inúmeras mulheres que procuraram conduzir seus próprios destinos foram taxadas de ‘bruxas’, perseguidas e executadas. Exercer uma atividade laboral nesse período, ter uma independência não era algo fácil para a mulher. A fé católica impunha a mulher um comportamento de culpa quando esta ultrapassava os ‘limites’ impostos. Procuramos listar no artigo, as possibilidades em que a mulher se tornou uma senhora feudal e, na medida do possível, conduziu seu próprio destino. O nosso objetivo consistiu em transpor a concepção bem difundida de que só existiram na Idade Média senhores feudais. Todavia, pesquisas historiográficas contemporâneas conseguiram identificar, por meio de fontes, que muitas mulheres conseguiram ultrapassar a barreira da sociedade patriarcal e altamente envolta pelos princípios da religiosidade, e, se tornaram senhoras de si.
Obrigada pelo comentário! ❤ 🙂 :3